Institucional
Brasília sedia o 32º Encontro Nacional da Rede UNA-SUS
O evento teve como tema os desafios e o futuro do SUS-Escola e, além de celebrar os 15 anos da UNA-SUS, fez parte da programação Pré-Congresso do Abrascão.
Neste sábado, 29 de novembro, aconteceu o 32º Encontro Nacional da Rede UNA-SUS, realizado em Brasília (DF). O evento, promovido anualmente e de modo itinerante, reúne as 35 instituições de ensino superior (IES) que compõem a Rede UNA-SUS para compartilhar experiências e apresentar novas iniciativas educacionais alinhadas às demandas do mundo do trabalho e às necessidades da população — além de ser um momento para encontros presenciais e fortalecimento de laços.
Este ano, o encontro fez parte das atividades Pré-Congresso do 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão), também realizado na capital federal, de 28 de novembro a 3 de dezembro, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB). A UNA-SUS está presente no evento, com estande próprio, apresentações de trabalhos da Rede, entre outras atividades.
“UNA-SUS 15 anos: desafios e o futuro do SUS-Escola”
O 32º encontro da Rede UNA-SUS aconteceu na Fiocruz Brasília e começou com um café de boas-vindas e acolhimento aos participantes, seguido da mesa de abertura sob o tema “UNA-SUS 15 anos: desafios e o futuro do SUS-Escola”, com a presença de Fabiana Damásio (Secretária Executiva da UNA-SUS e diretora da Fiocruz Brasília), Fabiano Ribeiro dos Santos (Diretor de Gestão da Educação na Saúde), Jorge Harada (Coordenador da UNA-SUS/UNIFESP), Jacinta da Silva (Presidenta da ABEn), Arthur Chioro (Presidente da EBSERH), Sandro Schreiber de Oliveira (Presidente da ABEM), Brenda Freitas da Costa (Representante da SBMFC) e Jedidias de Lima Bezerra (Médico do PMM/UnB).
Os participantes refletiram sobre os avanços da Rede, seus desafios atuais e as perspectivas para o fortalecimento da educação permanente em saúde no país.
O médico Jedidias de Lima Bezerra, integrante do Programa Mais Médicos pela UnB, relatou sua surpresa e admiração ao conhecer a dimensão da equipe envolvida no funcionamento da UNA-SUS. Ele comentou as melhorias recentes da Plataforma Arouca, como o sistema de alertas para aulas e atividades pendentes e a função “facilitar”, que, segundo ele, já se incorporou ao cotidiano dos profissionais em formação. “Vocês são muito presentes na nossa vida”, afirmou.
O coordenador da UNA-SUS/UNIFESP, Jorge Harada, reforçou a responsabilidade de representar as IES da Rede e a importância de celebrar os 15 anos de sua trajetória. Comentou que o período passou rapidamente, mas foi marcado por conquistas significativas, sobretudo na integração ensino–serviço e no trabalho junto às comunidades. Harada ressaltou que celebrar a história da Rede também implica revisitar desafios, reconhecer avanços e reafirmar a defesa permanente do Sistema Único de Saúde (SUS) e da educação pública.
Ele lembrou a relevância da retomada do Programa Mais Médicos, que hoje reúne cerca de 26 mil profissionais em formação, com destaque para os cursos de Medicina de Família e Comunidade — essenciais para ampliar o acesso à saúde em periferias e regiões ribeirinhas. Harada elogiou ainda o empenho da Secretaria-Executiva da UNA-SUS na produção de cursos multicêntricos e autoinstrucionais sobre temas emergentes, como saúde de migrantes e populações LGBTQIAP+, assim como os avanços tecnológicos que ampliam e simplificam o acesso ao conhecimento.
Apesar disso, pontuou que persistem desafios importantes, como fortalecer vínculos com estados e municípios, expandir ofertas para outras categorias profissionais — como Saúde Bucal e Enfermagem — e consolidar a formação em rede nos diversos equipamentos do SUS, da Atenção Primária aos hospitais e serviços de vigilância. Finalizou enfatizando a necessidade de incorporar plenamente a Saúde Digital às práticas formativas, reconhecendo as tensões que podem surgir entre o público e o privado nesse processo.
A representante da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC), Brenda Freitas da Costa, sublinhou o papel da educação permanente na qualificação dos médicos que atuam nos diferentes territórios do país. Observou que a prática clínica está em constante evolução, exigindo atualização contínua diante de novos protocolos e desafios. “Somos clínicos qualificados e recursos para a comunidade”, afirmou, reforçando que a Medicina de Família e Comunidade se apoia na relação médico-paciente e na compreensão das realidades locais.
Brenda também apontou que 76% das pessoas atendidas pela Estratégia Saúde da Família (ESF) são negras, o que exige dos profissionais uma formação sensível às questões de equidade racial — tema ainda pouco presente na formação médica tradicional, marcada por heranças coloniais. Nesse contexto, destacou o papel da UNA-SUS, das especializações e das residências como caminhos para compreender “a cor e a complexidade dos territórios”.
O diretor de Gestão da Educação na Saúde, Fabiano Ribeiro dos Santos, enfatizou a integração entre formação profissional e organização dos serviços de saúde. Ele agradeceu a parceria das instituições presentes e afirmou que essa cooperação é fundamental não apenas para qualificar a educação na saúde, mas também para fortalecer o SUS. “Estamos diante de desafios enormes, mas seguimos trabalhando para garantir formação de qualidade, serviços fortalecidos e uma carreira digna para os trabalhadores do SUS”, concluiu.
A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Marly Marques, agradeceu a oportunidade de participar do encontro e ressaltou a relevância simbólica e estratégica da composição da mesa — que incluiu desde profissionais da assistência até coordenadores da Rede, representantes de sociedades científicas e gestores do Ministério da Saúde. Para Marly, essa diversidade traduz a essência da UNA-SUS: uma construção coletiva sustentada pela cooperação contínua entre instituições com diferentes expertises, mesmo em contextos políticos adversos.
Em sua intervenção, Marly sublinhou o papel histórico da Fiocruz na manutenção de parcerias estruturantes e afirmou que iniciativas como a UNA-SUS fortalecem não apenas o SUS, mas também a democracia, a soberania nacional e outros sistemas de saúde que se beneficiam da troca internacional de experiências. Para ela, a Rede UNA-SUS é um exemplo exitoso de integração ensino–serviço–território, capaz de dialogar com as singularidades locais e responder às demandas de formação alinhadas às realidades das comunidades, especialmente no campo da equidade.
A dirigente chamou atenção para a urgência de ampliar o acesso de forma includente, reconhecendo desigualdades persistentes, como a sub-representação de pessoas negras, indígenas e trans nos espaços formativos — e alertou que a transição digital não pode aprofundar essas exclusões. Ao encerrar, parabenizou a UNA-SUS pelos 15 anos e reconheceu o trabalho da Secretaria-Executiva na expansão da capilaridade da Rede: “Vida longa à UNA-SUS e a todos que trabalham por um SUS mais vivo e um Brasil mais justo”.
Sem memória, não há futuro
Após a mesa inicial, foi realizado um balanço dos 15 anos da UNA-SUS, revisitando conquistas, desafios e aprendizados acumulados ao longo desse período. O assessor sênior da UNA-SUS e professor emérito da UFMG, Francisco Campos, relembrou grandes nomes da saúde pública que pavimentaram esse caminho, como o sanitarista Sérgio Arouca, a enfermeira Izabel dos Santos e o médico José Roberto Ferreira. Para ele, reconhecer o legado desses pioneiros é essencial, pois sem os pensamentos do passado, não seria possível construir o futuro.
Também foram apresentadas atualizações das plataformas tecnológicas do Sistema UNA-SUS e do projeto político-pedagógico, seguidas de um espaço de diálogo para esclarecimentos, compartilhamento de experiências e construção conjunta de ideias.
Além disso, a programação incluiu o pré-lançamento do novo vídeo institucional da UNA-SUS, da revista comemorativa de 15 anos da UNA-SUS, além do registro fotográfico oficial da reunião. O encontro contou também com um almoço coletivo, com direito a bolo de aniversário e parabéns.


Com debates densos, celebrações simbólicas e a reafirmação de compromissos, o 32º Encontro Nacional consolidou-se como um marco na trajetória da UNA-SUS — apontando caminhos para os próximos anos e reafirmando a importância da memória, da cooperação e da educação permanente na construção do futuro da saúde no Brasil.

Abrascão 2025
No mesmo dia, no período da noite, aconteceu a cerimônia de abertura do 14º Abrascão, no CICB, marcando o início oficial de uma semana de debates sobre os desafios da saúde no século 21. Na abertura, a presidente da Comissão Local, diretora da Fiocruz Brasília e Secretária Executiva da UNA-SUS, Fabiana Damásio, afirmou que o 14º Abrascão nasce como um espaço de construção coletiva em um momento de grandes desafios para a saúde no país. Ela destacou a importância de fortalecer o direito à saúde e ampliar o diálogo entre diferentes setores e territórios.
Fotos: Paola Resende
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