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Pesquisa brasileira sobre HIV tem divulgação internacional

- Claudia Bittencourt



Uma pesquisa realizada no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, integrou uma iniciativa de divulgação científica internacional em plataforma multimídia promovida pelo American Journal Experts, serviço que auxilia pesquisadores na revisão e no preparo de manuscritos para publicação em periódicos científicos.

A iniciativa consiste em apresentar o conteúdo dos manuscritos em vídeo, com linguagem simplificada e buscando despertar o interesse pelos resultados apresentados nos artigos.

Os primeiros vídeos produzidos tratam da pesquisa Vigilância e diagnóstico de infecção por HTLV-1 e HTLV-2 em indivíduos infectados pelo HIV (vidiHIV/HTLV), coordenada por Adele Caterino-de-Araujo, do Centro de Imunologia do Instituto Adolfo Lutz, com apoio da FAPESP por meio do Programa de Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS).

Os resultados apresentados pelos vídeos foram publicados em artigos na revista AIDS Res Human Retroviruses e trazem importantes contribuições para o entendimento da dinâmica das coinfecções por HIV, o vírus da Aids, e os vírus HTLV-1 e HTLV-2, da mesma família, sendo o HTLV-1 associado ao surgimento de doenças neurológicas degenerativas e hematológicas, como leucemia e linfoma, além de polimiosites, poliartrites, uveítes e dermatites.

De acordo com Caterino-de-Araujo, o objetivo do American Journal Experts foi produzir vídeos com resultados de pesquisa de interesse público como pilotos para um projeto de divulgação científica multimídia.

“A ideia é que não só a comunidade científica da área tenha acesso às informações, e a linguagem audiovisual empregada ajuda a ampliar o alcance do trabalho”, disse à Agência FAPESP.

Os vídeos estão sendo adequados para publicação no portal do American Journal Experts, mas já podem ser acessados na Agência FAPESP.

Os retrovírus humanos HIV e HTLV causam infecção crônica no hospedeiro e compartilham as mesmas vias de transmissão. Nas décadas de 1980 e 1990, a população mais afetada pela coinfecção HIV/HTLV era de usuários de drogas injetáveis, mas esse cenário vem mudando desde então.

A identificação adequada dessas infecções virais tem importância diagnóstica e prognóstica.

De acordo com Caterino-de-Araujo, a coinfecção HIV/HTLV-1 pode interferir no início da terapia antirretroviral e acelerar a progressão de doenças associadas a esses vírus.

Por outro lado, também parece ter papel protetor na progressão para a Aids.

“Isso ocorre devido à produção de citocinas com perfil Th1 ou pela produção de quiomicinas que se ligam aos correceptores do HIV, impedindo sua penetração na célula hospedeira”, explicou.

Diante disso, o Ministério da Saúde recomenda nos manuais Guia de Manejo Clínico da infecção por HTLV e Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infecção por HIV em Adultos a realização da sorologia para HTLV no início do acompanhamento do paciente com HIV.

Vigilância

O Instituto Adolfo Lutz de São Paulo realiza a sorologia para HTLV desde a década de 1990 e tem observado problemas no diagnóstico de infecção principalmente por HTLV-2 em pacientes infectados pelo HIV.

Além disso, pesquisadores da instituição utilizam diferentes algoritmos de testes laboratoriais para o diagnóstico e têm realizado a caracterização molecular dos vírus HTLV-1 e HTLV-2 que circulam em pacientes com HIV/Aids.

O projeto coordenado por Caterino-de-Araujo criou um grupo de vigilância e diagnóstico de infecção pelos vírus em São Paulo, com o objetivo de monitorar sua prevalência, identificar os fatores de risco associados à sua disseminação, encontrar novos marcadores de valor diagnóstico e prognóstico e realizar estudos de epidemiologia molecular desses retrovírus.

Na primeira etapa do projeto, conduzido com 1.608 pacientes do Centro de Referência e Treinamento (CRT) em DST/Aids de São Paulo, foram comparados diferentes testes de diagnóstico sorológico e molecular e identificados aqueles com melhor desempenho como estratégia diagnóstica.

O grupo determinou ainda as taxas de prevalência de infecção por HTLV-1 e HTLV-2 na população estudada e as comparou com as de outras populações de pessoas infectadas pelo HIV em anos anteriores.

Os resultados obtidos mostraram que houve diminuição de infecção com o passar dos anos, caindo de 13,2% para 3,1%.

“Essa mudança coincidiu com a introdução da política de redução de danos no Estado de São Paulo, que teve início em Santos, em 1989, com a lavagem das seringas e agulhas em solução de hipoclorito e, posteriormente, com a primeira lei estadual que legalizou a troca de seringas, sancionada em março de 1998.

A diminuição das infecções pode também estar relacionada a mudanças nas características epidemiológicas da população exposta ao HIV, que hoje é infectada mais pela via sexual do que pelo uso de drogas injetáveis, e no tipo de drogas ilícitas usadas atualmente, como o crack”, disse Caterino-de-Araujo.

O trabalho apresentado nos vídeos descreve ainda que a prevalência da coinfecção HIV/HTLV está no gênero feminino, entre pessoas negras e pardas e pacientes já infectados pelos vírus da hepatite B e da hepatite C, além de usuários de drogas injetáveis.

“Esses estudos vêm auxiliando o Ministério da Saúde na escolha do melhor algoritmo de testes de diagnóstico a ser empregado em população com HIV e tem ajudado também os médicos do CRT no melhor acompanhamento dos coinfectados”, disse a pesquisadora.

Os artigos com os resultados apresentados nos vídeos são de autoria de Adele Caterino-de-Araujo, Cláudio Tavares Sacchi, Maria Gisele Gonçalves, Karoline Rodrigues Campos, Mariana Cavalheiro Magri, Wong Kuen Alencar e pesquisadores do Group of Surveillance and Diagnosis of HTLV of São Paulo (GSuDiHTLV-SP), formado por Alexandre de Almeida, Carlos Henrique Barreto-Damião, Fábio Higa, Lucila Okuyama Fukasawa, Luana Coelho, Luis Brígido, Marcela Santana, Maristela Salgado, Nadia Costa, Leda Jamal, Maria de Fátima Jorge, Maria Lúcia Mello, Risia Oliveira e Telma Oshiro.

As pesquisas contaram ainda com a colaboração do CRT em DST/Aids de São Paulo e dos laboratórios de investigações médicas 47 e 56 da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Além da FAPESP, o projeto recebeu financiamento do Ministério da Saúde e do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).

A íntegra do artigo pode ser acessada em: online.liebertpub.com/doi/abs/10.1089/aid.2014.0287.

Fonte: Exame