Geral
Diagnóstico e tratamento da Hanseníase: o papel dos profissionais de saúde da Atenção Básica
Na história da Humanidade, diversos são os relatos sobre a hanseníase, uma doença cercada de preconceito desde os chamados tempos bíblicos. A hanseníase - conhecida anteriormente como lepra - é uma doença crônica e infectocontagiosa causada pela Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen. Esta bactéria foi identificada em 1873, pelo médico norueguês Gerhard HenrickArmauer Hansen, que deu seu nome doença.
A hanseníase afeta principalmente a pele e os nervos das pessoas infectadas. Seus principais sintomas são o surgimento de manchas na pele e a perda de sensibilidade nas regiões afetadas. A hanseníase pode se apresentar de diferentes formas clínicas, que são agrupadas para fins de tratamento da seguinte forma: paucibacilar, com 1 até 5 lesões de pele e multibacilares, com mais de 5 lesões.
O diagnóstico da Hanseníase no início dos sintomas pode evitar a evolução para formas mais graves da doença. Segundo orientação do Ministério de Saúde, a identificação dos sinais e sintomas da hanseníase e o diagnostico clinico são ações que devem ser realizadas em todas as equipes de saúde da Atenção Básica e Saúde da Família. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que uma vez confirmado o caso, o paciente deve começar imediatamente o tratamento medicamentoso: a poliquimioterapia (PQT) cuja duração varia segundo a forma clínica da doença, a idade do paciente e sua tolerância ao medicamento. A PQT encontra-se disponível gratuitamente nas Unidades de Saúde do SUS.
Dados do Ministério da Saúde apontam o Brasil como um país endêmico para a hanseníase, com uma média de 47 mil novos casos da doença por ano, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco (SES-PE), na região Nordeste, o Estado de Pernambuco ocupa o terceiro lugar em número de casos, com quase 3 mil novos casos por ano. Quando consideramos apenas as crianças menores de 15 anos, Pernambuco assume a segunda posição no Nordeste e ocupa a quinta no país em número de casos detectados.
Ainda no nosso estado, o Programa Estadual de Vigilância, Prevenção e Controle da Hanseníase é responsável pela promoção de diversas ações com os objetivos de capacitar profissionais de saúde no diagnóstico e tratamento da doença, identificar novos casos e informara população sobre as características da doença.
Um dos maiores obstáculos para a cura da hanseníase é a falta de informação. Existe um histórico grande de estigmas relacionados à hanseníase. Durante séculos, acreditou-se que a sua transmissão era imediata e que as pessoas infectadas deveriam ser privadas de todo convívio social.
Hoje, sabe-se que o bacilo de Hansen é altamente infectante, mas poucas pessoas adoecem, porque a maioria apresenta capacidade de defesa do organismo contra o bacilo. A principal fonte de infecção é a pessoa doente das formas multibacilares, ainda sem tratamento, que elimina os bacilos através das vias respiratórias (por secreções nasais, tosses e/ou espirros).
A coordenadora do Programa Estadual de Vigilância, Prevenção e Controle da Hanseníase, Raíssa Alencar, acredita que os preconceitos surgidos ao longo da história ainda repercutem na relação dos médicos e enfermeiros com o tratamento da doença. "O problema começa na formação profissional. A hanseníase não recebe a devida atenção durante a graduação e nos formamos ainda com muitas dúvidas com relação à doença. A Coordenação Estadual, por meio das gestões municipais, promove a discussão sobre hanseníase, trazendo os esclarecimentos necessários para os profissionais de saúde. Muitos querem trabalhar no combate à hanseníase, mas não conseguem porque falta informação, têm dificuldade em obtê-la e, deste jeito, não conseguem fazer o diagnóstico precoce, como preconizado”.
O Programa promove ações em unidades prisionais do estado em parceria com a Secretaria Estadual de Ressocialização, movimentos sociais, ONGs e Pastorais Carcerária e da Saúde. Essas ações, que são realizadas em forma de mutirões, têm o objetivo de identificar casos entre os detentos e iniciar a poliquimioterapia quando necessário. Em 2013, os internos dos presídios Anibal Bruno, Feminino de Abreu e Lima e Penitenciária Agro Industrial São João, em Itamaracá, foram beneficiados por estas ações. Em cada unidade prisional, foram detectados de 10 a 15 casos da doença onde, antes, só havia 1 ou 2 registros, segundo a coordenadora do programa
A partir do diagnostico, os pacientes são acompanhados pelo Programa através do Sistema de Informação do Sistema Único de Saúde (SUS) e uma equipe passa a fazer visitas periódicas a essas unidades prisionais. Raissa Alencar ressalta a importância da equipe de saúde das unidades prisionais na identificação de novos casos e não apenas durante as ações desenvolvidas pelo Programa.
O Programa Estadual de Vigilância, Prevenção e Controle da Hanseníase realiza diversas ações de informação e diagnostico gratuito: O "Dia Mundial de Combate a Hanseníase" é lembrado no último domingo de janeiro, o "Dia Estadual de Combate a Hanseníase" é, por sua vez, lembrado no dia 6 de junho. O "Ônibus da Saúde", veículo equipado com consultórios, leva uma equipe de profissionais de saúde aos vários municípios do estado. A parceria com o programa SANAR - Programa de Enfrentamento às Doenças Negligenciadas - busca reduzir ou eliminar as doenças negligenciadas no interior do estado. Também são organizados mutirões nos chamados “municípios silenciosos”, aqueles que não possuem nenhum caso registrado da doença, e em comunidades quilombolas.
"A hanseníase é um problema de saúde pública. Então, não devemos esperar que o paciente venha até nós. Nós, profissionais de saúde, tanto da Vigilância Sanitária como da Atenção Básica, temos a obrigação de identificar estes pacientes, garantir o tratamento e ter certeza de que a cadeia de transmissão foi quebrada", conclui Raíssa Alencar.
Fonte: UNA-SUS/UFPE