COVID-19

Covid-19: pesquisa aponta mudanças de hábitos alimentares entre adolescentes

O estudo mostrou que os adolescentes de cinco países, incluindo o Brasil, tiveram consumo modificado de alimentos fritos, alimentos doces, legumes, vegetais e frutas durante o confinamento indicado para redução da transmissão da Covid-19. 

- Ascom SE/UNA-SUS



Estudo publicado no periódico científico Nutrients mostrou que os adolescentes de cinco países, incluindo o Brasil, tiveram consumo modificado de alimentos fritos, alimentos doces, legumes, vegetais e frutas durante o confinamento indicado para redução da transmissão da Covid-19. A pesquisa, que revela o aumento do consumo de frutas e hortaliças durante o distanciamento social, também observou maior ingestão de doces e frituras entre os jovens. O estudo teve participação da pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Letícia Cardoso, da professora da UFRJ, Patricia Padilha, e fornece a primeira descrição de como a pandemia de covid-19 alterou as tendências na alimentação de adolescentes da Espanha, Itália, Brasil, Colômbia e Chile. A iniciativa teve a liderança do Dr Alberto Davalos, do Instituto Madrilenho de Estudos Avançados em Alimentação.
 
O isolamento durante a pandemia de covid-19 afetou a alimentação, especialmente dos adolescentes, que são altamente suscetíveis a adquirir maus hábitos alimentares. Intitulado “Covid-19 Confinement and Changes of Adolescent’s Dietary Trends in Italy, Spain, Chile, Colombia and Brazil”, o artigo mostrou os resultados do estudo que descreveu as mudanças na dieta durante o confinamento dos adolescentes de 10 a 19 anos e identificou os fatores que podem ter influenciado as alterações. 

Com relação ao padrão de consumo de hortaliças e frutas entre os adolescentes, a pesquisa mostra que 43% deles consumiram vegetais todos os dias durante o confinamento, contra 35,2% que consumiam antes. Da mesma forma, apenas 25,5% dos adolescentes pesquisados consumiram pelo menos uma peça de fruta por dia antes do Covid-19, contra 33,2% durante o confinamento. “Esses resultados não surpreendem, pois a venda desse tipo de alimento aumentou desde o início da quarentena e a população teve mais tempo para cozinhar em casa“, explicam as autoras.

O levantamento aponta que a ingestão de fast food foi drasticamente reduzida em adolescentes durante o confinamento. Se antes da quarentena apenas 44,6% dos adolescentes consumiam esse tipo de alimento menos de uma vez por semana, a porcentagem aumentou para 64% durante o confinamento.

Em compensação, a ingestão média de alimentos fritos e doces aumentou significativamente durante o confinamento para conter a transmissão da Covid-19. Enquanto 14% dos adolescentes consumiam alimentos doces todos os dias antes da pandemia, durante o confinamento esse percentual aumentou para 20,7%. 

No que diz respeito ao consumo de alimentos fritos de quatro a sete dias por semana, houve aumento de 7,4% (quatro dias), 3,7% (cinco dias), 1,8% (seis dias) e 2,1% (sete dias na semana) de antes da pandemia de Sars-CoV-2 para 8,8%, 3,8%, 2,2% e 2,9% durante o confinamento. “Esses resultados confirmam estudos anteriores que sugeriram que o confinamento poderia levar a padrões alimentares irregulares e lanches frequentes em adolescentes devido ao tédio e estresse. É importante destacar também que esses hábitos alimentares estão associados a uma maior ingestão calórica e a um maior risco de obesidade e outras doenças crônicas no futuro como diabetes, patologias cardiovasculares, entre outras”, explica a pesquisadora da Ensp.

Os dados foram coletados por meio de questionário anônimo sobre ingestão de alimentos entre 820 adolescentes da Espanha, Itália, Brasil, Colômbia e Chile. 

Brasil

Os adolescentes brasileiros se destacaram pela maior média de ingestão de legumes do que os jovens de outros países durante o período (cinco porções por semana). Em todos os países, exceto entre os adolescentes espanhóis, esse aumento foi significativo durante a pandemia. “O Brasil já é um dos países em que os adolescentes apresentam um consumo melhor de hortaliças e menor de alimentos ultraprocessados (26% em 2018), quando comparado a países de alta renda (66%) e ao Chile (29%), país latino-americano que aparece na pesquisa e do qual dispomos de dados recentes”, conforme comentou a pesquisadora.

É importante gerar estudos futuros de larga escala que analisem hábitos alimentares para encorajar a adoção de hábitos alimentares saudáveis entre adolescentes, especialmente depois deste período de confinamento. “Entender os hábitos de nutrição dos adolescentes durante o isolamento pela pandemia de covid-19 vai ajudar as autoridades sanitárias a remodelar futuras estratégias para as recomendações nutricionais, na preparação para futuras pandemias”, registra o artigo.