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Fiocruz coordena construção de Mestrado Profissional em Saúde da Família

- Claudia Bittencourt



A saúde coletiva está desafiada a estabelecer pontes fundamentais para o momento que o país vive, de recolocar a questão da atenção básica como centralidade e a educação permanente. A nossa proposta é inovar partindo de um compromisso”, ressaltou a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, Nísia Trindade, durante a abertura da oficina da proposta de Mestrado Profissional em Saúde da Família (ProfSaúde). O encontro promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e Fiocruz, coordenadores do curso, aconteceu na Fiocruz Brasília, nos dias 10 e 11 de novembro.

A construção do novo Programa de Mestrado Profissional é uma proposta de curso em rede nacional, apresentada pela Abrasco e instituições de ensino e pesquisa que atuam no país, que têm a finalidade de formar profissionais que atuam na saúde da família, na atenção básica, em diversos municípios brasileiros.

Segundo a Abrasco, a proposta está em sintonia com os objetivos do Programa Mais Médicos lançado pelo Governo Federal em julho de 2013, como parte de um amplo pacto de melhoria do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que pretende capacitar médicos para atuação nas políticas públicas do país e na organização e funcionamento do SUS.

Foto: Ascom Fiocruz Brasília

A Fiocruz é responsável pela articulação de todas as universidades para estruturação do Aplicativo para Propostas de Cursos Novos (APCN). De acordo com Nísia, o projeto se situa com o papel e o compromisso da Fiocruz na sociedade, já que faz parte da tradição da instituição pensar em uma educação permanente. A vice-presidente ressaltou ainda as iniciativas da UNA-SUS e os módulos educacionais construídos.

“A saúde coletiva de forma isolada não desenvolve sozinha um programa deste porte, que deve ser em nível nacional, local e de cada instituição. Vários caminhos nos fizeram chegar a essa proposta, que está numa fase inicial.”, completou.

A oficina foi um espaço para debater, aprofundar, conceder e construir a proposta de capacitação em larga escala com milhares de profissionais. Com o objetivo de detalhar as competências do curso, realinhar os objetivos gerais e específicos de cada módulo, além de discutir as estratégias educacionais e os conteúdos na matriz curricular, a reunião foi realizada com as 33 instituições que integram a rede de mestrado profissional, que será oferecida como continuidade da formação do Programa Mais Médicos. A primeira turma será direcionada, a princípio, para os preceptores que ainda carecem de formação e para os médicos brasileiros.

De acordo com o presidente da Abrasco, Luiz Eugênio Portela, as instituições brasileiras não estão completamente preparadas para atender as necessidades de educação e saúde da população. “Por isso é preciso inovar e o ProfSaúde é uma proposta ousada para que a gente possa de fato contribuir para enfrentar nosso grande desafio que é oferecer para nossa população a educação e a saúde, além de uma nova institucionalidade”, afirmou. Para ele, a oficina contribuirá para a formatação do ProfSaúde, e o apoio das instituições de ensino é importante, para que possam de fato se adequar e conceber essa nova forma de atuar e garantir a formação com qualidade dos novos profissionais de saúde. 

Para o coordenador da Área de Saúde Coletiva da Capes, Guilherme Werneck, a iniciativa vai ao encontro de necessidades fundamentais no âmbito da saúde e ao mesmo tempo de necessidades que são reconhecidas pela Capes como fundamentais para a atuação acadêmica e qualificação profissional para o SUS.

Compuseram a mesa de abertura do evento, o diretor da Fiocruz Brasília, Gerson Penna; o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Heider Aurélio Pinto, e o diretor de Desenvolvimento da Educação em Saúde do Ministério da Educação, Vinicius Ximenes.

A experiência dos módulos PROVAB

Durante o segundo dia de evento, o secretário executivo da UNA-SUS, Francisco Campos falou sobre a experiência da construção dos módulos do Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (PROVAB).

Ao total, são 60 cursos livres oferecidos pelas universidades que compõem a Rede UNA-SUS. Os nove primeiros módulos foram lançados no dia 1 de novembro, durante o 52º Congresso Brasileiro de Educação Médica (Cobem), em Joinville/SC. Para saber mais detalhes sobre os lançamentos e se inscrever, clique aqui!

Os temas dos cursos consideram a Classificação Internacional em Atenção Básica e as políticas de equidade, que propõem investimentos planejados em grupos sociais historicamente excluídos. Além disso, os conteúdos consideraram temas clínicos recorrentes nos atendimentos e as Redes de Atenção à Saúde. Os temas também abrangem conteúdos relevantes para a Saúde Pública e para a Saúde Coletiva, no intuito de aprofundar discussões teóricas importantes sobre o SUS, Estratégia de Saúde da Família, entre outros.

De acordo com o secretário, a construção do mestrado profissional foi iniciada a partir da discussão sobre a necessidade da criação de novas alternativas educacionais que fossem de utilidade para os profissionais saúde e que refletissem positivamente nos serviços de saúde, especialmente com após a implementação do Programa Mais Médicos.

Campos explicou que ainda que o Mestrado Profissional não seja seu foco, a UNA-SUS acompanhou o processo de criação do ProfSaúde desde o início, participando das discussões com as autoridades dos Ministérios da Educação e da Saúde, posteriormente com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Posteriormente, estimulou os parceiros que embarcassem nesta iniciativa, que tem a responsabilidade institucional da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), em parceria com a Fiocruz. “Este é um sistema de vasos comunicantes e, em muitos estados, aqueles que se envolvem com as tutorias e preceptorias dos programas de provimento, com a expansão da educação e com as reformas das graduações já existentes serão, em maioria, aqueles que possuem capacidade para oferecer um mestrado profissional”. Campos destaca o orgulho da UNA-SUS em ver o avanço da iniciativa, que já possui mais de 30 universidades interessadas e ressalta que os materiais do Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES) estará disponível para utilização. “Um bom mestrado profissional em saúde da família/atenção básica se alimentará da experiência positiva e do acervo da UNA-SUS e certamente o enriquecerá no futuro. É uma típica colaboração onde todas as partes sairão vencedoras”, afirmou. 

O pró-reitor do ProfSaúde, Luiz Augusto Facchini saudou o secretário executivo da UNA-SUS como sócio fundador da Abrasco e ressaltou que as ofertas da UNA-SUS são iniciativas inovadoras e de grande escala e agradeceu ao estímulo para que o ProfSaúde fosse iniciado.

ProfMat

Os participantes da oficina tiveram a oportunidade de ouvir sobre a experiência do Mestrado Profissional em Matemática em Rede Nacional (ProfMat). O coordenador do programa, Marcelo Viana contou que atualmente existem cerca de 400 mil professores de matemática em todo Brasil. Para tanto, foi necessário criar oportunidades educacionais que atendessem a essa demanda. O curso é semipresencial, com oferta nacional, realizado por uma rede de Instituições de Ensino Superior, no contexto da Universidade Aberta do Brasil, e coordenado pela Sociedade Brasileira de Matemática. Ao total,67 instituições ofertam o curso em 90 cidades brasileiras, em todos os estados da federação. O ProfMat tem 7 mil alunos e já certificou mais de 1.300 professores.

Foram produzidos todos os materiais didáticos utilizados no curso, além da criação de uma biblioteca digital com conteúdos em diferentes formatos.  “Fizemos uma ponte entre a universidade, onde os professores de matemática são capacitados e as escolas onde eles dão aulas”, explicou.

Pesquisa

Durante o evento, foram apresentados os perfis dos profissionais que compõem o programa Mais Médicos. Hoje, 65% dos municípios brasileiros contam com profissionais do programa, conforme resultado preliminar da Pesquisa Avaliativa do Mais Médicos,  apresentado pela  cientista social e pesquisadora da Fiocruz, Maria Helena Machado. Dos quase 14 mil profissionais do programa, 79,7% têm nacionalidade cubana, 15,8% brasileira e 4,4% vêm de outros países.

Homem, com até 30 anos de idade e com menos de cinco anos de formado é o perfil básico dos brasileiros, que em sua maioria (70%) optaram por trabalhar em municípios das regiões Nordeste e Sudeste. Ceará, Bahia e Minas Gerais foram os estados preferidos.

Entre os cubanos predominam mulheres (58,2%) com idade entre 41 a 50 anos, grande parte delas atua em municípios das regiões Sudeste, Nordeste e Sul. São Paulo (14,6%), Bahia (9,6%), Minas Gerais (8,7%), Rio Grande do Sul (7,4%), Paraná (6,4%), Ceará (6%), Maranhão (5,5%) foram os estados preferidos por este grupo.

No grupo que reúne as mais diversas nacionalidades predominam os homens com idade entre 26 e 35 anos, a maioria proveniente de países vizinhos: Argentina, Venezuela, Uruguai e Bolívia. Eles atuam nos estados do Rio Grande do Sul (27,2%), São Paulo (10,5%), Paraná (10%), Santa Catarina (9,8%) e Amazonas (6,6%).

Fonte: Fiocruz Brasília, editada pela UNA-SUS