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Cadernos de Saúde Pública debate crise da água no Brasil

- Claudia Bittencourt



Disponível online, a última edição da revista Cadernos de Saúde Pública discute a crise no suprimento de água no Brasil. Na seção Perspectivas, Léo Heller, do Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas Gerais), afirma que o direito humano à água potável e ao saneamento foram explicitamente reconhecidos pelas Resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas. O especialista, além de apontar claramente que a população mais vulnerável (pobres, as crianças e idosos) será a mais afetada numa situação de restrição de consumo, alerta para a possibilidade de contaminação da água potável quando a distribuição é intermitente. “Se a população mais rica pode se proteger, comprando água ou abrindo poços, o direto à água e saneamento requer que o setor público priorize exatamente os que têm menor poder de pressão”, defende o pesquisador.

editorial dos Cadernos, assinado pelo pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Francisco Inácio Bastos, levanta outra questão importante: a agressividade e intolerância com relação a um amplo conjunto de minorias. “No meu cotidiano, testemunho tendência oposta, de agressões dirigidas a usuários de drogas (população com a qual trabalho), violência de cunho homofóbico e racial, agressões contra mulheres”, descreve Bastos. Para o pesquisador, o texto não é otimista, mas traz um chamado essencial para todos nós: não nos deixemos seduzir pelo canto das sereias, que ilude e mata. Recuperemos o Engenho e Arte da epidemiologia!

volume 31, número 3, de CSP traz para discussão mais de vinte artigos com temas como a implantação de programas de controle em unidades prisionais no Brasil; avaliação econômica de doenças raras; depressão em idosos; análise territorial da distribuição do Aedes aegypti; endividamento hospitalar na compra de medicamentos; estigma e discriminação em mulheres HIV positivo; fatores psicossociais e socioeconômicos relacionados à insônia e menopausa; pontos de venda de alimentos e associação com sobrepeso e obesidade; estudo nutricional de vitaminas em crianças; exposição a agrotóxicos, entre outros assuntos.

No artigo Indução de endividamento hospitalar na compra de medicamento em situação de monopólio: o caso do mesilato de imatinibe, as pesquisadoras da Ensp, Carolinne Thays Scopel e Gabriela Costa Chaves, explicam que os gastos com medicamentos correspondem a uma grande parcela do orçamento em saúde. Sendo assim, a produção de conhecimento sobre o uso desses recursos é essencial na tomada de decisão em saúde pública e melhoria da assistência farmacêutica. O objetivo do estudo foi analisar o processo de endividamento em um hospital universitário de alta complexidade devido ao gasto crescente com a aquisição de mesilato de imatinibe, utilizado no tratamento de leucemia Mielóide crônica (LMC).

O estudo aponta que o processo de endividamento do hospital estudado, em função da compra do mesilato de imatinibe, ao longo do período avaliado, se deu não só pelo aumento da demanda, mas também em virtude da incompatibilidade entre o aumento do preço do medicamento e o valor repassado. O estudo mostrou que o caminho da incorporação do medicamento por um hospital universitário teve como pano fundo abordagens tanto da empresa como do governo. Para as autoras, o trabalho também servirá como subsídio para outras pesquisas que aprofundem o conhecimento sobre o uso de recursos gastos em medicamentos no Brasil e avaliem as Políticas de Desenvolvimento Produtivo como estratégia de produção local e promoção do acesso a novas tecnologias.

Propriedades psicométricas da versão brasileira do instrumento Vulnerable Elders Survey-13 (VES-13) é mais um dos artigos que compõem a edição. O estudo buscou avaliar as propriedades psicométricas da versão brasileira do Vulnerable Elders Survey-13, para isso foram realizadas entrevistas com indivíduos de 60 anos ou mais, atendidos em unidade ambulatorial de hospital de câncer. Segundo os autores, O VES-13 apresentou boa validade convergente e validade divergente razoável. A versão brasileira do instrumento apresentou propriedades psicométricas consistentes.

O estudo é assinado pela pesquisadora do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos (Demqs/Ensp), Inês Echenique Mattos, em parceira com os pesquisadores das Faculdades de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Laércio Lima Luz e Lívia Maria Santiago e João Francisco Santos da Silva, respectivamente.

No artigo Análise da implantação do Programa de Controle da Tuberculose em unidades prisionais no Brasil, o pesquisador do Departamento de Epidemiologia da Ensp, Luiz Antonio Bastos Camacho e a pesquisadora da Ensp e da Universidade Federal de Santa Catarina, Sonia Natal, em parceria com a pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense, Luisa Gonçalves Dutra de Oliveira, avaliaram o grau de implantação do Programa de Controle da Tuberculose (PTC) em unidades prisionais de dois estados brasileiros.

No Brasil, as ações de controle da tuberculose destinadas à população carcerária estão há dez anos regulamentadas pelo Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário e os estados da federação têm modelos distintos de organização do PCT no sistema prisional. Segundo os autores, com base na análise de implantação feita no estudo, é necessário que as ações de busca ativa sejam enfatizadas tanto no ingresso do detento como por meio de exames periódicos e dos contatos. Além disso, o tratamento diretamente observado deve ser feito para todos de forma a esclarecer dúvidas, promover a educação em saúde e evitar o uso indevido dos medicamentos.

Os autores apontam ainda que a comunicação entre os profissionais de segurança e os da saúde nas unidades prisionais, entre as unidades prisionais por ocasião das transferências, e entre o sistema penitenciário e o sistema de saúde nas situações de livramento, seja feita de forma a evitar a interrupção do tratamento dos pacientes, aumentando as taxas de cura e, consequentemente, reduzindo a transmissão da doença no ambiente prisional. “Em última análise, o impacto desse conjunto de medidas pode beneficiar a própria equipe de saúde ao propiciar evolução favorável dos casos e reduzir a transmissão da doença”, defendem os autores.

Na seção As autoras respondem, as pesquisadoras da Ensp, Joyce Mendes de Andrade Schramm e Vera Lúcia Edais Pepe e a pesquisadora do Instituto Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), Tatiana Aragão Figueiredo, agradecem os comentários ao artigo Seleção de Medicamentos Essenciais e Carga de Doença no Brasil, uma vez que permitem ampliar a discussão em torno da Assistência Farmacêutica vis-à-vis importantes conceitos como essencialidade, seleção e incorporação de medicamentos, fundamentais para a construção de um Sistema Único de Saúde (SUS), respeitando seus princípios de equidade, universalidade e integralidade.

Confira o volume 31, número 3, de Cadernos de Saúde Pública na íntegra.

Fonte: Agência Fiocruz