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Simplicidade ao detectar a sífilis

- Ascom SE/UNA-SUS



Cientistas da Fiocruz criam exame que, com apenas uma gota de sangue, procura mais indícios biológicos da doença e acusa a existência dela em 15 minutos. Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma das doenças sexualmente transmissíveis que mais crescem no país. No Distrito Federal, de 2007 a 2013, o aumento de casos foi de 22% -- São Paulo registrou 603% no mesmo período. Preocupante, o avanço também impacta quem está começando a viver. A sífilis congênita, quando o micro-organismo é passado de mãe para filho, segue o ritmo de subida, de 5.832 registros no país em 2005 para 13.705 em 2013 (135%). Descobrir a enfermidade o quanto antes está entre as propostas de especialistas para conter o problema. Em fase final de teste, um exame criado no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fiocruz, segue essa lógica.

O kit consegue acusar a doença de forma simples e em apenas 15 minutos. A partir de uma gota de sangue, a sondagem usa bases treponêmicas e não treponêmicastreponêmicas para a triagem da infecção. Atualmente, o teste feito para diagnosticar a sífilis é apenas o treponêmico, que apresenta uma desvantagem: uma vez que o paciente tenha tido a DST, os testes continuarão dando resultado positivo, mesmo após o tratamento bem-sucedido. O exame não treponêmico identifica se a doença prevalece no indivíduo. Portanto, a combinação dos dois aumenta a eficácia do procedimento.

Os últimos testes da Fiocruz foram feitos com 517 voluntários -- pessoas que tiveram o sangue coletado em duas maternidades, um hospital especializado em tratamento para a Aids e um de atendimento geral. Segundo Nara Rubim, pesquisadora da Bio-Manguinhos, "a sensibilidade e a especificidade das amostras avaliadas atingiram índices próximos a 100%".

O kit, cujo desenvolvimento conta com parceira da empresa norte-americana Chembio Diagnostics INC, já foi registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "A ideia é usar o teste no Programa Cegonha e nas ações relativas a DST", conta Ramon Lemos, um dos responsáveis pelo estudo.

Mais suscetíveis

Grávidas e soropositivos são o alvo do diagnóstico simplificado porque estão entre os pacientes que mais sofrem com a doença. Segundo os pesquisadores do Bio-Manguinhos, identificar precocemente a doença é uma etapa crucial para a interrupção do contágio para o filho. Quanto antes for iniciado o tratamento, melhores as chances de o bebê não se contaminar.

Se não houver terapia contra o Treponema pallidum, pode acontecer aborto espontâneo ou morte fetal, quando o bebê nasce morto. Segundo dados do Ministério da Saúde, a morte de bebês em decorrência da sífilis congênita subiu 45% em dois anos: de 111 casos em 2011 para 161 em 2012. Quando a criança sobrevive, há o risco de complicações nos primeiros meses de vida, como pneumonia, feridas no corpo, alterações mentais e cegueira.

No caso de infectados pelo HIV, alterações no sistema imunológico fazem com que a sífilis se agrave rapidamente, passando de um estágio latente para a condição terciária, quando há, por exemplo, comprometimento do sistema nervoso central e das funções cardiovasculares. Angélica Espinosa Miranda, presidente da Associação Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis, explica que há um outro fator que torna a situação de grávidas e soropositivos mais delicada. "Eles têm uma imunossupressão que dificulta o diagnóstico da doença", diz, referindo-se à redução da atividade ou da eficiência do sistema imunológico. Os exames procuram estruturas de defesas produzidas pelo corpo para indicar a presença da doença.

Sintomas sutis

Segundo médicos, um dos dificultadores do diagnóstico precoce da sífilis é o fato de os sinais da doença por vezes passarem despercebidos. No primeiro estágio, o principal sintoma é o surgimento de uma ferida indolor, que desaparece após alguns dias, mesmo não sendo tratada. Angélica Espinosa Miranda, presidente da Associação Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis, conta que, no caso das mulheres, o risco é ainda maior de o machucadinho não ser notado. "Ele pode surgir na parede vaginal. Às vezes, elas nem ficam sabendo que têm a DST", explica.

Quando a infecção não é tratada na fase inicial, pode virar latente, ficando anos no organismo sem qualquer tipo de manifestação. Ao voltar à ativa, no entanto, vem mais forte, chegando a causar lesões na pele e em ossos. Segundo Angélica Espinosa, no Brasil, dificilmente as pessoas passam pelo estágio latente sem descobrir que têm a doença. Isso porque exames de rotina, admissionais e demissionais, pedem o teste treponêmico. O tratamento é feito com antibióticos, em geral a penicilina. Essa droga é a única indicada para a sífilis congênita, porque só ela consegue ultrapassar a barreira placentária e chegar ao feto.

Fonte: Correio Braziliense