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Psicólogo compartilha impressões sobre o Curso Saúde da População Negra

- Ascom SE/UNA-SUS



Na próxima semana, a Secretaria Executiva da Universidade Aberta do SUS (SE/UNA-SUS) lançará nova turma para o curso Saúde da População Negra. Enquanto a nova oferta sai do forno, entramos em contato com alunos que concluíram o curso anteriormente para saber como foi a experiência deles com o curso.

Conversamos com o psicólogo Flávio Alves da Silva, 35 anos, que atua na ONG/OS Ação Comunitária Senhor Santo Cristo Começar de Novo. A Organização oferta serviços de assistência social e saúde (SAICA, NASF, CCA’s, Serviços de Medidas Socioeducativas, Agentes Comunitários de Saúde, apoio ao PSF) na Cidade Tiradentes, em São Paulo.

Arte: Tiago Botelho (SE/UNA-SUS)

Achamos a experiência dele tão interessante que decidimos compartilhar na íntegra.

Se você ainda não fez o curso, o Flávio com certeza irá motivá-lo!

O que o motivou a fazer o curso?

Fui motivado por três motivos. Primeiro, sou negro, então o curso era sobre mim também. Segundo, acredito que os profissionais de saúde devem se qualificar cada vez mais e qualificar os serviços em que atuam, e a UNA-SUS nos dá uma contribuição enorme nisto. Por fim, o tema. Atuo em uma região em que a população é majoritariamente composta por negros e pobres, usuários do SUS, ou seja, o curso se relaciona diretamente população que eu atendo.

Na sua opinião, o curso tratou os conteúdos necessários de forma leve e objetiva? No geral, o que você achou do material do curso?

Os conteúdos e os materiais foram excelentes, claros, simples, objetivos e muito bem fundamentados.

Uma linguagem acessível que primou por se fazer compreender e que não entrou no habitual linguajar técnico do campo da saúde.

Os conteúdos tinham relação direta com o dia-a-dia dos usuários, dos profissionais e dos serviços de saúde, ficando claro ser possível discutir com a comunidade e profissionais, aplicar os temas abordados no cotidiano da Unidade de Saúde, mudando algumas posturas e combatendo o racismo institucional.

Para você, qual foi o maior aprendizado oferecido pelo curso?

O curso me fez observar melhor os serviços prestamos e a maneira como temos nos relacionado com a população que os utiliza, em combater o racismo institucional, aprendi a ouvir mais, refinar a escuta e perceber que a comunidade que utiliza nossos serviços possui aspectos culturais, sociais, questões subjetivas que devem ser consideradas na oferta de uma política pública e que muitas vezes são negligenciadas.

Você conseguiu aplicar o que aprendeu no seu dia-a-dia? Como?

O tema do racismo institucional entrou em nossas pautas, nas reuniões. Nos planejamentos, passamos a dar mais atenção ao que as estatísticas nos dizem quando inserimos o quesito cor, passamos a nos observar mais e perceber onde nossas práticas contribuíam para a perpetuação do racismo, sejam em falas enviesadas e discriminatórias, no tratamento descuidado, na negação da cultura local e na supervalorização do discurso clínico em detrimento daquilo que a comunidade nos traz. Temos um caminho longo a percorrer ainda, mas já estamos caminhando.

O que você acha de cursos como este, que trabalham temas políticos no âmbito da saúde, fugindo um pouco das questões técnicas e biomédicas?

Cursos como este são de extrema importância, as políticas de saúde acontecem dentro de um contexto complexo, que possui componentes sociais, econômicos, culturais, e que extrapolam procedimentos técnicos ou questões biomédicas.

É importante que essas questões apareçam em nossa prática, é importante que nós, profissionais de saúde, consideremos esses aspectos e que a partir de nossas práxis possamos corrigir distorções, contribuir para o combate ao racismo e todas as outras formas de discriminações, e que reflitamos se a maneira em que atuamos não contraria os princípios ou sustenta um sistema desigual que impede a plena implantação do SUS.

As profissões da saúde têm compromisso com a promoção dos direitos humanos e com a construção de uma país mais justo, igualitário, democrático e para todos.

De um modo geral, o que você achou do curso? Você indicaria para colegas?

O curso foi sensacional, uma experiência gratificante, que me estimulou a buscar mais informações sobre o racismo, em que contexto ele ocorre e como posso contribuir para eliminá-lo.

Vi muito da população que atendo, me vi em muitas situações, e isso me fez repensar e muito a minha prática. Foi um curso muito bem produzido, fundamentado, que me abriu a possibilidade de buscar novas formas de atuação, ampliar meu leque de possibilidades e acima de tudo, de respeitar e reconhecer a população negra – e a mim mesmo – como negro e sujeito de direitos que devem ser garantidos e ampliados.

Com certeza recomendo o curso Saúde da População Negra e todas as outras ofertas da Universidade Aberta do SUS.

Fonte: SE/UNA-SUS, por Cissa Paranaguá