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A luta contra o surto de Ebola em Serra Leoa

- Claudia Bittencourt



As autoridades sanitárias nacionais, OMS e parceiros estão trabalhando contra o relógio para conter o surto de Ebola que afeta os distritos orientais de Kailahun e Kenema em Serra Leoa. Kailahun está situada próximo à fronteira com a Guiné e especificamente a região de Gueckedou onde o surto foi declarado primeiro em março destea ano. Os primeiros casos confirmados de Ebola em Kailahun foram relatados em 25 de maio.

Em 17 de julho de 2014, o total de casos atribuídos ao vírus da doença Ebola em Serra Leoa era de 442, incluindo 206 mortes. “Desde de minha chegada a doze dias, enterramos mais de 50 corpos em dois cemitérios provisórios perto do centro de tratamento do Ebola”, declarou Jose Rovira, um especialista em logística que trabalha com a OMS. Rovira treinou 20 voluntários da Cruz Vermelha Nacional e do Ministério da Saúde em enterros seguros de pacientes mortos pelo Ebola no distrito de Kailahun “e esses dados não incluem os enterros das pessoas que morreram em suas casas. Recebemos alertas diários sobre mortes suspeitas nas comunidades".

Encontrar e tratar todos os pacientes do Ebola e então traçar e observar os contatos próximos dessas pessoas por um período de 21 dias para assegurar que elas não foram infectadas é fundamental para parar a cadeia de transmissão. “Estamos atrasados com o Ebola. Chegamos muito tarde quando as vilas já apresentavam dúzias de casos e no momento não sabemos onde todas as cadeias de transmissão estão acontecendo” informou a coordenadora de emergências dos Médicos Sem Fronteiras que dirige o centro de tratamento do Ebola em Kailahun, Anja Wolz. “Desde que estabelecemos o centro há quarto semanas, temos mais de 90 casos confirmados, mas acredito que isso ainda seja a ponta do iceberg”.

A cadeia de transmissão moveu-se então para o Sul para a grande cidade de Kenema. O hospital do distrito transformou duas alas em centro de tratamento com a OMS fornecendo médicos e assistência técnica. Oito enfermeiras que trabalhavam na ala do Ebola foram infectadas, depauperando uma já escassa força de trabalho em saúde.  “Temos uma capacidade limitada e nossos trabalhadores da saúde não estão bem preparados” afirmou Dr. Brima Kargbo, oficial Médico Chefe de Serra leoa, responsável atualmente pela resposta em Kenema. “Apreciamos bastante a assistência externa.”

Maximizando recursos limitados

Em ambas as cidades, a resposta é organizada por intermédio de comitês de trabalho em diferentes aspectos e presidida pelas autoridades nacionais: gerenciamento de caso e controle de infecção, vigilância e mobilização social, apoio psicossocial e logística. “Para ter sucesso em ativamente encontrar as pessoas doentes, a participação da comunidade é vital”, explicou líder da equipe da OMS e coordenador de emergências em Kailahun, Zabulon Yoti. “Com o apoio financeiro dos parceiros, recrutamos, treinamos e equipamos 20 voluntários com telefones celulares em cada uma das 14 chefaturas. Cerca de 300 voluntários estão encarregados em rastrear e alertar o Ministério da Saúde sobre qualquer caso ou morte suspeitos. O programa está produzindo resultados e os recursos financeiros estão disponíveis para os próximos três meses”.

A OMS ajudou com a instalação dos laboratórios móveis da Saúde Pública do Canadá em Kailahun; enquanto em Kenema a testagem é feita no centro de pesquisa da febre existente em Lassa. As atividades relativas á mobilização social também estão em andamento, mas o medo e a ansiedade persistem especialmente nas áreas rurais.  As atividades envolvendo os líderes tradicionais e religiosos no distrito de Kailahun já resultaram em maior aceitação das intervenções de saúde pela população. A admissão precoce de infectados no centro de gerenciamento de casos para cuidados de apoio aumentam as chances de sobrevivência. Há mais de 50 pacientes infectados pelo Ebola que até o momento obtiveram alta e foram enviados para suas casas seguindo um bem sucedido gerenciamento no centro de tratamento de Kenema.

Uma resposta robusta é urgentemente necessária

A ampla propagação geográfica do surto requer uma enorme e robusta capacidade de resposta e de estruturas. Contudo, como se trata do primeiro maior surto do vírus da doença do Ebola na África Ocidental, os países afetados têm que ampliar seus sistemas de preparação e resposta para epidemia.

Em Serra Leoa, há a opinião unânime entre todos aqueles envolvidos que sem mais recursos a luta contra o Ebola se provará muito difícil. “Precisamos estabelecer a resposta e necessitamos faze-lo rápido”, declarou Yoti, “precisamos de mais especialistas aqui, mais recursos financeiros e mais apoio logístico”. Há muitos voluntários da comunidade prontos para tomar parte na resposta, mas com frequência há falta de pessoas com experiência para supervisionar as operações. “Estamos enfrentando um surto sério e precisamos mais pessoal e logística” concluiu Kargbo.

Fonte: OMS, traduzida pela UNA-SUS