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Fiocruz Pernambuco testa novas formas de controle da dengue em Fernando de Noronha

- Claudia Bittencourt



Uma nova abordagem para o controle do mosquito vetor da dengue deverá ser implementada em Fernando de Noronha a partir de dezembro. Ela reunirá ações em três frentes: controle biológico, mecânico e genético, utilizando dados do sistema de monitoramento SMCP-Aedes, desenvolvido pela Fiocruz Pernambuco e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A abordagem foi apresentada pela pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Alice Varjal, em reunião realizada no dia 15/10 no arquipélago. A metodologia do projeto Tecnologias integradas para controle biológico, mecânico e genético do Aedes aegypti foi explicada aos conselheiros de saúde locais pela coordenadora de Saúde de Noronha, Fátima Souza.

O objetivo desse novo trabalho é avaliar tecnologias inovadoras, mais seletivas e ambientalmente seguras, que possam ser integradas ao sistema de controle do vetor da dengue em Pernambuco. O projeto já obteve a aprovação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão responsável pela proteção do patrimônio natural de Fernando de Noronha. Coordenado pela Fiocruz Pernambuco, o estudo será desenvolvido em colaboração com o Departamento de Energia Nuclear (DEN) da Universidade Federal de Pernambuco, as Secretarias de Saúde do Estado e do Recife e a empresa Multiave.

A escolha de Noronha para o desenvolvimento da maior parte das ações do projeto se deu por suas características geográficas, que favorecem o estudo, e pela existência de uma ampla base de dados, gerada pelo sistema de monitoramento do vetor que já está consolidado no local (o SMCP-Aedes). A coordenadora de Saúde de Noronha, Fátima Souza, destacou o quanto essas ações de vigilância têm sido positivas. “Até o início de outubro desse ano, apenas seis pessoas foram notificadas (com dengue), considerando que já passamos pelo período crítico, o das chuvas”, afirmou. Com 103 ovitrampas instaladas, o sistema mapeou, nos últimos três anos, os locais e os períodos do ano de maior infestação, entre outras informações que serão utilizadas nessa nova intervenção.

Testes também em Recife

Uma das três técnicas em estudo, utilizada como componente de controle biológico, será a borrifação do biolarvicida Bacillus thuringiensis israelensis(Bti) nas áreas externas dos imóveis. A aplicação acontecerá em locais onde se encontram objetos em desuso, que podem acumular água da chuva e se tornarem criadouros do mosquito. De acordo com Alice Varjal, esses criadouros são considerados críticos, pela dificuldade de serem identificados e eliminados do ambiente, levando à permanência de focos produtivos do inseto.

No contexto da pesquisa, essa será a única tecnologia testada em um bairro do município do Recife, ainda a ser definido, além de Fernando de Noronha. “O estudo permitirá comparar o desempenho da aplicação espacial do Bti em duas áreas com características bem diversas, uma urbana no continente, onde os bairros se intercomunicam e uma na ilha, onde o mar funciona como barreira natural, reduzindo as variáveis a serem controladas”, explica a pesquisadora.

A segunda estratégia a ser testada é de controle mecânico e prevê o uso massivo de armadilhas adesivas (BR-OVT adesiva) em Noronha, para coleta e destruição de ovos e de mosquitos adultos em locais de grande movimentação, como aeroporto, porto, hospital, escola, creche, igreja e outros. “Em áreas infestadas pelo mosquito, onde circulam muitas pessoas, o risco de transmissão da dengue torna-se maior, pois indivíduos doentes, na fase de circulação do vírus no sangue, podem ser picados por fêmeas do Aedes e estas, em mais ou menos sete dias, serem capazes de transmitir o vírus para outras pessoas”, afirma Alice.  Para ela, a retirada de fêmeas do ambiente, estejam elas infectadas ou não, representa uma ação tanto de controle como de bloqueio da transmissão viral a partir destes locais.  

O controle genético estará presente na terceira técnica a ser avaliada, que utiliza mosquitos machos inférteis para competir com os selvagens no acasalamento. Como a fêmea do mosquito costuma ficar disponível para acasalar apenas uma vez ao longo de sua vida, o cruzamento com machos estéreis acaba impedindo sua reprodução. Eles passam espermatozóides inviáveis e as fêmeas utilizam esses espermatozóides durante todo o seu processo de postura dos ovos, sem gerar novas larvas do inseto. A partir do uso dessa tecnologia, é esperada uma diminuição da densidade populacional do Aedes.

Treinamento

No período de 11 a 15 de novembro, a equipe de Agentes de Saúde de Noronha participará de uma capacitação promovida pela Fiocruz Pernambuco, sobre todas as técnicas necessárias à implantação do projeto, inclusive para a etapa de liberação dos mosquitos, que está prevista para o mês de dezembro. Os pontos de soltura serão escolhidos com a participação desses profissionais e dos moradores.

O sucesso desse controle integrado do mosquito poderá não apenas auxiliar na redução da transmissão local da dengue, mas também de outras doenças, como chikungunya, que apesar de não ocorrer na ilha, também tem o vírus transmitido pelo mesmo vetor. “Não podemos esquecer que Fernando de Noronha está na rota do turismo nacional e internacional e, portanto, vulnerável a entrada de novos tipos virais”, conclui.

 

Fonte: Agência Fiocruz