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Dia Mundial da Saúde

- Claudia Bittencourt



“A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades", define a Organização Mundial da Saúde (OMS). O Dia Mundial da Saúde, celebrado nessa terça-feira, 7 de abril, traz à tona a reflexão a respeito das condições ambientais e sociais que influenciam na saúde de cada um.

Para o consultor da UNA-SUS, Luiz Carlos Lobo, manter um estilo de vida saudável, com boa alimentação e exercícios físicos é primordial para a promoção da saúde e prevenção de doenças.

Além das ações individuais, Lobo destaca que a saúde também é reflexo das condições ambientais, como saneamento básico e acesso à água. “A verminose, por exemplo, é comum em comunidades sem saneamento básico”, disse. “Saneamento não deve ser considerado como um gasto, e sim um investimento”, afirma.

Foto: Divulgação OMS

PESSOAS SAUDÁVEIS, AMBIENTES SAUDÁVEIS

Esse conhecimento foi tratado internacionalmente no 14º Congresso Mundial de Saúde Pública, realizado na Índia em fevereiro, teve como tema Pessoas Saudáveis, Ambientes Saudáveis. Como fruto do evento, a Carta de Calcutá reafirma compromissos com o meio ambiente e com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que guiaram o desenvolvimento global depois do fim do prazo para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Entre os temas abordados, Determinantes Sociais, Econômicos e Ambientais da Doença e do Desenvolvimento; Clima e Saúde; Doenças Não Transmissíveis e suas Causas; Cobertura Universal da Saúde.

Para o psicólogo e consultor da UNA-SUS, Augusto Campos, “qualidade de vida não é sinônimo de escolha saudável, mas é uma combinação de escolhas e ambientes saudáveis”, afirma.

A ROTINA DO TRÂNSITO

Lobo afirma ainda que é preciso melhorar as condições de habitação e transporte, que influenciam em diversos aspectos da saúde dos indivíduos. “Quando uma pessoa passa muito tempo se deslocando no trânsito, desgaste e stress são proporcionados, além de possivelmente um intenso impacto na qualidade do sono”, explica.

É o caso do jornalista e professor de história Victor Barbosa, de 28 anos, que cursava duas faculdades ao mesmo tempo em localidades distantes: jornalismo na Brasília (DF) e história em Formosa (GO). Victor percorria diariamente 75 quilômetros e passava cerca de duas horas e meia no trânsito. “Depois de um período, o tempo no ônibus passa a tornar a rotina extremamente desconfortável. Ficava pensando nas horas perdidas desanimava”, conta. “Cansava de ficar um bom tempo esperando o ônibus chegar no ponto, fora as duas horas e meia todos os dias com a viagem. Tudo isso só aumentava o estresse, fora os problemas mecânicos que por ventura surgiam”.

O professor conta que a rotina árdua influenciava diretamente em seus hábitos alimentares e qualidade de sono, o que na época causou um aumento da taxa glicêmica e da pressão. “Acordava às 5h15, ia para Brasília e voltava. Almoçava por volta das 14h30, às vezes às 15 horas. Sem dúvida nenhuma, esse não é um horário ideal para realizar a refeição”, disse. Após o alerta de um médico sobre os agravos em sua saúde e com o fim do curso, Victor mudou seus hábitos e teve a saúde reestabelecida.

EXERCÍCIOS FÍSICOS: GRANDES ALIADOS

O estudo publicado em janeiro, no periódico American Journal of Clinical Nutrition concluiu que a falta de exercícios físicos aparece relacionada a duas vezes mais mortes do que a obesidade. Leia mais aqui.

Para manter um ritmo de vida mais saudável e reduzir o excesso de peso, a administradora e consultora em gestão de empresas Michelle Naves, de 35 anos, busca cultivar hábitos saudáveis com uma rotina de exercícios e uma boa alimentação. “Manter uma alimentação sem excessos é o maior desafio, principalmente para um casal que tem uma vida social bastante ativa, que adora conhecer novos restaurantes e experimentar comidas e bebidas diferentes. Por isso, tenho brigado com a balança nos últimos anos”, afirma.

Ciente da importância dos cuidados com a saúde, Michelle buscou alternativas para manter a qualidade de vida, incentivada pelos planos do casamento e filhos. Determinados, a administradora e o noivo, Frederico, começaram um projeto de que consiste em uma dieta balanceada e uma rotina de exercícios com uma personal trainer. “Bastaram algumas semanas para notar a melhora na disposição e a redução das dores nas pernas e na coluna. Além disso, tenho priorizado cozinhar em casa, usando ingredientes naturais e receitas saudáveis”, conta.

Os hábitos anteriores de Michelle que resultaram em problemas na tireoide e no desenvolvimento de algumas intolerâncias alimentares. “Apesar de gostar de praticar exercícios, minha dedicação à carreira me fez não priorizar exercícios ou esportes e isto, combinado ao hábito de comer fora e sempre correndo, agravaram o ganho de peso e a deterioração do meu corpo, como problemas nos joelhos, ombros, coluna”, conta.

Foto: Academia da Saúde - Divulgação Ministério da Saúde

Com relação às atividades físicas, Lobo destaca o projeto Academia da Saúde, promovido pelo Ministério da Saúde para incentivar as práticas de exercícios físicos, por meio da implantação e implementação de polos dotados de equipamentos, estrutura e profissionais qualificados.

DESAFIOS PARA MANTER ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

Para auxiliar a população a manter uma rotina de alimentação saudável, o Ministério da Saúde lançou o Guia Alimentar para a População Brasileira em novembro de 2014. Acesse aqui.

A nutricionista do Programa de Alimentação e Nutrição (Palin) da Fiocruz Brasília, Simone Armond, destacou desafios e aspectos centrais do documento, como acesso a informações de qualidade e questões relacionadas ao tempo de preparação e à qualidade dos alimentos. “As pessoas têm percebido cada vez mais a importância da alimentação. Porém, por conta do estilo de vida corrido, muitos não conseguem se alimentar como gostariam”, conta. Para Simone, “o acesso às fontes de informação confiáveis é essencial para que a população adquira consciência e realize boas escolhas alimentares”. Nesse sentido, o Observatório de Hábitos Alimentares, projeto do Palin em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) pretende realizar hangouts sobre com especialistas sobre o tema em breve. O site ainda está em construção.

De acordo com o Guia, Simone destaca que a alimentação envolve mais que gestão de nutrientes, mas também aspectos sociais e culturais, que influenciam no modo de consumo. Nesse sentido, a nutricionista fala sobre a importância da valorização dos alimentos regionais para a composição da dieta. O tema foi abordado nessa terça (7) pelo Ministro da Saúde, Arthur Chioro, durante o lançamento do livro Alimentos Regionais Brasileiros, que complementa o Guia.

Baseado no Guia, Simone deu algumas dicas para melhorar a alimentação e gerir melhor o tempo

  • Dê preferência às preparações rápidas e deixe algumas coisas previamente separadas para a manhã;
  • Leve em conta o gosto pessoal, brinque com receitas e alimentos de sua preferência;
  • Prefira alimentos in natura, em detrimento dos produtos industrializados;
  • Prepare um cardápio semanal das comidas que pretende cozinhar durante a semana. Esse planejamento irá poupar tempo na hora de realizar as compras e evitará idas desnecessárias ao mercado;
  • Ao fazer comprar, compre alimentos perecíveis em menor quantidade e guarde-os adequadamente para evitar o desperdício;
  • O site da Embrapa dá dicas de como conservar hortaliças adequadamente. Para acessar, clique aqui;
  • Evitar o consumo e observar as quantidades de sal, óleo, gorduras e açúcar. “A diminuição desses produtos não altera o sabor do alimento. Pelo contrário, reduzindo o consumo, descobre-se o sabor natural”, afirma Simone;
  • Valorizar a agricultura familiar e regional;
  • Dar preferência a alimentos orgânicos – procure os pontos de venda da sua cidade
  • Variar a alimentação;
  • Substituir o sal por outros temperos, misturar e guardar na geladeira;
  • Cozinhar o feijão com verduras dentro, ao invés da carne. “A carne em si já é salgada. Se o feijão for preparado com verduras, se economiza tempo no preparo da salada e diminui a quantidade de sal ingerida”;
  • Adicionar alimentos ao arroz, como cenoura, brócolis, gengibre. “Não é preciso cozinhar as verduras separadamente”;
  • Para economizar e ingerir mais alimentos naturais, Simone sugere a eliminação da compra dos ultraprocessados. O custo pode ser equivalente e você se alimentará melhor;
  • Evitar ao máximo alimentos ultraprocessados, que comprometem os mecanismos de saciedade. “Você começa a comer e não consegue parar”;
  • Evitar líquidos industrializados, como sucos, que possuem alta quantidade de açúcar;
  • Para aumentar o consumo de ômega 3, compre sardinhas, coloque um pouco de azeite e leve ao forno;
  • A água não deve ser substituída por outros líquidos. Para quem não tem o hábito, vale adicionar pedaços de laranja, limão às garrafas, ou adquirir a água aromatizada;
  • Não esperar ter sede para beber água;
  • O açúcar é o grande vilão da dieta, especialmente das crianças;
  • Insira as crianças no ambiente da cozinha e leve-as quando for fazer compras, são ótimos momentos para ensinar sobre bons hábitos alimentares.
  • Se envolva em projetos de hortas comunitárias.

CUIDADO COM A SAÚDE MENTAL

A saúde mental também é um fator que merece atenção da população e profissionais de saúde. Recentemente, pesquisadores atribuíram à vida solitária danos à saúde tão sérios quanto a obesidade, entre eles, encurtar a longevidade. O estudo da Brigham Young University, nos Estados Unidos, alerta que a solidão e o isolamento social afetam a expectativa de vida de forma tão severa quanto outros maus hábitos da vida moderna. Leia mais.

Um relatório divulgado pela OMS em setembro de 2014 chamou a atenção de governos para o suicídio, considerado “um grande problema de saúde pública”.

Para o psicólogo e consultor da UNA-SUS, Marcus Guadalupe, a estrutura psicológica do indivíduo e fatores ambientais influenciam na exposição às situações sociais que gerariam prazer. “Quem tem depressão, por exemplo, pode acabar evitando situações de lazer e interações sociais”. Para Guadalupe, a terapia é necessária para mudar o ambiente e incentivar a buscar por atividades que gerem prazer e satisfação.

Para Simone, comer em companhia é uma boa alternativa para socializar e fazer das refeições um momento de celebração. “Comer em companhia pode ser gratificante principalmente idosos, que geralmente tem dificuldades para se alimentar”, conta.

A meditação pode ser uma grande aliada no combate à depressão, de acordo com o estudo feito na Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos. Para a pesquisa, meditar durante 30 minutos todos os dias ajuda a aliviar sintomas da ansiedade, depressão e dores crônicas. Leia mais aqui.

Fonte: SE/UNA-SUS, por Claudia Bittencourt